A rima é ruim, mas a afirmação, infelizmente, é verdadeira.

Todos os anos, quando se inicia o período das chuvas de verão, uma situação invariavelmente se repete, chuvas fortes seguidas de interrupção no fornecimento de energia elétrica.

Mas a chuva forte não é o principal responsável pelos apagões, aliás ela é até preferível à garoa leve que vem após uma longa estiagem, pois a garoa se mistura à poeira que cobre os isoladores das linhas, formando uma espécie de pasta, que permite a passagem de corrente elétrica para a estrutura, causando curto-circuito e consequente desligamento da rede.

Quando a chuva, mesmo que intensa, cai sem ventos fortes, rapidamente, lava os isoladores não ocasionando maiores problemas. O grande problema está exatamente nas rajadas de vento que acompanham essas tempestades. O vento carrega para a rede aérea de distribuição, galhos de árvore, placas publicitárias, pedaços de fita e outros materiais, metálicos ou não, mas que por estarem molhados se tornaram condutores de eletricidade.

Estatísticas mostram que a principal responsável pelas interrupções no fornecimento de energia elétrica, são mesmo as árvores, quer seja quando são derrubadas sobre à rede pela ventania, ou quando tem os seus galhos balançados pelo vento, vindo a encostar na rede.

Não há dúvida, que as árvores são extremamente necessárias ao ambiente urbano, embelezam, trazem sombra e purificam o ar, mas convivem muito mal com a rede aérea de distribuição de energia elétrica.

Lembro-me de um fato ocorrido na década de 1980, envolvendo um então presidente da Eletropaulo que lançou uma campanha para que, do local em que saísse um poste fosse plantada uma árvore. Ele não sabia, ou ignorou o fato, de que os postes são substituídos com relativa frequência, seja porque estejam danificados ou porque o consumidor quer construir uma entrada de garagem no local.  O novo poste geralmente é colocado a uma curta distância do substituído, ou seja a rede aérea continua no mesmíssimo lugar.

A única coisa que essa infeliz ideia conseguiu, foi a de aumentar em algumas centenas, a quantidade de árvores interferindo com a rede.

Embora não seja comum, a rede aérea de distribuição e árvores podem coexistir, desde que estas sejam de pequeno porte e a rede aérea primária e secundária sejam do tipo isolado.

Então, o que impede que o problema seja resolvido?

A grande questão é  que, embora haja várias medidas preventivas que podem ser adotadas como: uso de redes compactas (spacer-cables) reduzindo a abrangência da poda, redes e árvores ocupando espaços urbanos separados (tais como as ruas de serviço para receber a posteação, medida que é adotada em algumas cidades americanas) e redes subterrâneas de distribuição, todas elas (e principalmente a última) implicando em dispêndios financeiros maiores que os exigidos para a implantação das redes aéreas convencionais, e que nem as concessionárias, nem os municípios ou consumidores concordam em arcar com essa despesa adicional.

Mas essa história não é nova, já na minha época de Eletropaulo (me aposentei em 2006) elaborávamos anualmente o Chamado Plano Verão. Esse plano consistia em preparar as redes para as chuvas através da manutenção preventiva, fornecimento de “pagers” (aos mais jovens solicito pesquisar no Google) e celulares a todos os eletricistas e técnicos para que pudessem ser acionados rapidamente com a finalidade de melhorar a infraestrutura  de atendimento, convocação em regime de sobreaviso de equipes de empreiteiras, requisição de veículos dotados de cestas aéreas para o atendimento de emergência, criação temporária de Centros de Operação nas Regionais mais afetadas e outras.

Então, o que explica as interrupções que afetaram os consumidores da empresa ENEL este ano em São Paulo, algumas com duração de mais de 90 horas?

Certamente isso não teve como motivo o aumento na manutenção preventiva e muito menos o aumento nos recursos alocados para atender aos chamados de falta de energia, talvez a concessionária ou a ANEEL possam explicar melhor o que está acontecendo.

Decio Wertzner – Fevereiro/2022

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